Nesse dia, um de abril de 1974, fazia 16 anos. Tinha saído da escola e arranjaram-lhe trabalho no Porto do Funchal. O chefe, “um homem grande, chamavam-lhe o cavalo branco” recebeu-o, olhou um documento e a primeira pergunta foi “fazes anos hoje?”, respondeu-lhe que sim e levou a sentença: “Vai para casa. Começas amanhã!” Foi assim o primeiro dia de Sidónio Figueira da Silva, o mestre Sidónio que soma 43 anos ao serviço dos Portos da Madeira, o que faz dele o funcionário mais antigo ainda em funções.

Foi logo para o serviço de eletricidade, mas o gosto sempre foi a mecânica. Um prazer e um hobby. Já recuperou mais de uma centena de carros e 15 motos que vendeu depois.

No Porto do Funchal, só anos mais tarde é que conseguiu trabalhar na área. E a mudança veio na sequência de ter salvo a vida de um colega, porque o trabalho no porto também propiciava acidentes. Tinha regressado ao trabalho, depois da tropa. Esteve nos empilhadores, a seguir foi trabalhar com o Independência. Tudo o que era avaria era arranjado no seu serviço. As mais graves iam para o Arsenal. Foi o trabalho de que mais gostou, por todas as circunstâncias! “Os nossos engenheiros e os comandantes dos nossos barcos eram de uma qualidade… Tudo tinha de estar pronto e impecável! Havia a noção de serviço público! E também amizade e camaradagem.”

Mas vendidos o Independência, o Pirata e o Pátria, acabou-se a carreira e passou para os marítimos, onde está há mais ou menos, 15 anos, tendo tirado a cédula de motorista marítimo.

Das recordações, o que lhe vem logo à memória é a imagem de ir buscar a filha ao Colégio Lisbonense e levá-la para o armazém. Era ela que separava os parafusos por medidas, enquanto ele fazia outras coisas.

Às filhas ensinou-lhes coisas práticas do dia a dia, como ver o óleo e a água do carro, “é bom saber, seja homem ou mulher.”

Lembra-se também de na euforia do 25 de abril, ter ficado retido durante algum tempo no porto, “porque veio o povo, mas polícia não deixou entrar.”

Ainda vai fazer 60 anos no próximo ano. Quando fez 36 anos de serviço, quis reformar-se, mas a resposta foi negativa. Senão, teria embarcado numa outra aventura, com a mecânica pelo meio. Numas férias na Suíça, conseguiu arranjar dois tratores que estavam parados e ninguém acreditava que voltassem a funcionar. Por isso, foi convidado para trabalhar em terras helvéticas, mas permaneceu nos portos. A amizade com esse empresário suíço dura até hoje.

Ao fim de 43 anos de serviço, foi com “muita alegria” que recebeu a homenagem que o Conselho de Administração decidiu prestar aos funcionários com mais de 35 anos de trabalho nos portos. “Estou muito satisfeito pelo reconhecimento!”

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